Causidicus
2003-12-31
 
Um adeus a 2003. Feliz 2004!

Pia, pia, pia
O mocho,
Que pertencia
A um coxo.
Zangou-se o coxo
Um dia,
E meteu o mocho
Na pia, pia, pia...

Fernando Pessoa, Obra Poética, vol. III, p. 393. Lisboa, Círculo de Leitores, 1986.
2003-12-28
 
POEMA DEL DOMINGO

Hacía tiempo mucho tiempo que no escribía un poema
el día
domingo
como si los poemas tuvieran un solo día de descanso
como si la poesía fuera un sonido hebdomadario de
las vértebras
o de ese imaginario real que ahora anda fantasmal
entre
las plantas del último día de la semana.
¿Y todo por qué? Respondo a tu pregunta
joven profeta:
porque esta mañana me puse a leer los poemas de
un griego contemporáneo
y he advertido que estos descendientes del
Peloponeso
jamás se han olvidado de sus dioses, de la guerra de
Troya,
o de la muerte de Aquiles.
Y extrañamente, cronológicamente a-histórico, he
pensado en
los tesoros y en la riqueza de nuestro pasado remoto
de nuestra
edad de piedra o de la mítica Edad Media;
que tenemos en nuestros genes argentinos unos
seres mitad reales mitad autoinventados de tiempo
actual,
casi sin pasado y sin maquillaje.
Y en traducción directa del griego o en simple versión
francesa
alguien nos lee en una voluminosa antología de poetas
del mundo.
latino, y pregunta, como ahora tú:
¿por qué escribes un poema el día domingo?
Y responderé con sentimientos del exilio, quizá,
porque hoy es un buen
día para recordar el río local que nada tiene para
ofrecer
o vender en el extranjero, sino es solamente, la
versátil claridad de sus aguas,
que fluyen heracliteanamente como todo río de aldea o
de
pueblo, y en el cual nunca se hundieron los caballos
de Troya, no cantado por homéricos ni tirios,
sino por otros poetas mayores que vivieron y
murieron
en este mismo siglo, y que ahora están en el
cementerio de
Gualeguay
flotando por estos domingos de poesía
y de preguntas que, algún día,
otros poetas contestarán sin mirar el dibujo
que hacen sus letras entintadas de
signos ideográficos; despojos de la operación
que se llama el inconsciente colectivo: esa suma de
arenas blancas
de la costa-que se mueven al compás de un día
domingo,
con el ritmo de un movimiento de aguas que corren
naturalmente
hacia la curva del molino,
hacia este milagro del mediodía, en este fugaz instante
en que los dioses griegos me han permitido hablar
por otra boca.


Alfredo Veirave.


Causídicos constipados não entram!

É sabido que muitas vezes os advogados se apresentam em Tribunal com grande sacrifício pessoal, pugnando pelos direitos dos seus constituintes mesmo quando se encontram doentes ou debilitados, se o considerarem indispensável ao sucesso do patrocínio. Porém, neste Tribunal, os causídicos e outros intervenientes processuais que se apresentem com sintomas de gripe ou constipação, não entram.


Muito obrigado

ao Cabo Raso, pelo amável link para o Causidicus.
2003-12-24
 
Hoje é dia de ser bom...

Desejo a todos um Feliz Natal e um óptimo ano de 2004... em que as boas causas triunfem.
2003-12-21
 
Poema de Domingo:


TEMPO LIVRE

Numa tarde de domingo, em Central Park, ou
numa tarde de domingo, em Hyde Park, ou
numa tarde de domingo, no jardim do Luxemburgo, ou
num parque qualquer de uma tarde de domingo
que até pode ser o parque Eduardo VII,
deitas-te na relva com o corpo enrolado
como se fosses uma colher metida no guarda-
napo. A tarde limpa os beiços com esse
guardanapo de flores, que é o teu vestido
de domingo, e deixa-te nua sob o sol frio
do inverno de uma cidade que pode ser
Nova Iorque, Londres, Paris, ou outra qualquer,
como Lisboa. As árvores olham para outro sítio,
com os pássaros distraídos com o sol
que está naquela tarde por engano. E tu,
com os dedos presos na relva húmida, vês
o teu vestido voar, como um guardanapo,
por entre as nuvens brancas de uma tarde
de inverno.

Nuno Júdice
In Lisboa com Seus Poetas - Colectânea, Lisboa, Pub. Dom Quixote, 2000, p. 148.


Blogolândia

Agradeço os links que os blogs A torto e a direito, Cobracuspideira, Primeiro Ministro e Professorices fizeram para o Causidicus. São excelentes blogs que procurarei acompanhar com atenção.

O Professorices, blog do Prof. João Vasconcelos Costa, conquistou de imediato a minha simpatia ao recordar, num post de 9 de Dezembro, uma das falas de Shakespeare que mais me marcou: “We few, we happy few...” ("King Henry the Fifth", acto IV, cena III).

Graças ao imprescindível Fumaças, descobri este Jumento a não perder!

O Aviz estreou uma nova imagem, com a qualidade de sempre.


Luz no túnel de Guantanamo?

Desde que o Supreme Court dos Estados Unidos aceitou analisar a questão de Guantanamo, a jurisprudência dos Tribunais dos EUA está a mudar. Esta semana, o 9th U.S. Circuit Court of Appeals, em San Francisco, decidiu que os Estados Unidos não podem manter cidadãos estrangeiros detidos indefinidamente na base de Guantanamo (Cuba), sem lhes dar a oportunidade de recorrer ao sistema judicial dos EUA e à assistência de advogados.

"Even in times of national emergency... it is the obligation of the judicial branch to ensure the preservation of our constitutional values and to prevent the executive branch from running roughshod over the rights of citizens and aliens alike," said the ruling by the Ninth Circuit Court of Appeals.

It added it could not accept the position that anyone under the jurisdiction and control of the US could be held without "recourse of any kind to any judicial forum, or even access to counsel, regardless of the length or manner of their confinement".


Ler aqui e aqui.

HORA DE PONTA (2)

Continua a hora de ponta. Quando puder, “despejo o saco”...
2003-12-14
 
25º. Poema de Domingo:


OS DOMINGOS DE LISBOA

Os domingos de Lisboa são domingos
Terríveis de passar - e eu que o diga!
De manhã vais à missa a S. Domingos
E à tarde apanhamos alguns pingos
De chuva ou coçamos a barriga.

As palavras cruzadas, o cinema ou a apa,
E o dia fecha-se com um último arroto.
Mais uma hora ou duas e a noite está
Passada, e agarrada a mim como uma lapa,
Tu levas-me p’ra cama, onde chego já morto.

E então começam as tuas exigências, as piores!
Quer’s por força que eu siga os teus caprichos!
Que diabo! Nem de nós mesmos seremos já senhores?
Estaremos como o ouro nas casas de penhores
Ou no Jardim Zoológico, irracionais, os bichos?
..........................................................................................
..........................................................................................
Mas serás tu a minha «querida esposa»,
Aquela que se me ofereceu menina?
Oh! Guarda os teus beijos de aranha venenosa!
Fecha-me esse olho branco que me goza
E deixa-me sonhar como um prédio em ruína!...


Alexandre O’Neill, Tomai lá do O’Neill! - uma antologia, Lisboa, Círculo de Leitores, p. 270.

Cf. o poema de Pedro Mexia aqui publicado em 2003-10-19.

Agradeço ao JG e ao Guest Blogger o envio de mais uma “resma” de formidáveis Poemas de Domingo.
2003-12-09
 
No dia em que completa seis meses de existência, o Causidicus contempla nostalgicamente um passado longínquo, certo de que dele nada nos restou.

Aqui ficam mais alguns,

Blogs de antigamente

“(...)
Como disse anteriormente existe em Lisboa o supremo tribunal do Reino e muitos tribunais subalternos. A justiça ministra-se em todos eles com a maior lentidão, tanto por causa da rabulice dos advogados, em que os de Portugal são mestres, como por mor da indolência ou incapacidade dos juízes. (...) Quanto à polícia, falta-lhe a organização necessária.
(...)”.


Anónimo, Description de la Ville de Lisbonne..., Paris, 1730, in O Portugal de D. João V visto por três forasteiros (tradução, prefácio e notas de Castelo Branco Chaves), Lisboa, Biblioteca Nacional, 1983, p. 72.


“(...)
Em Portugal os crimes ficam impunes e só são punidos os pequenos delitos, muitas vezes apenas suspeitos, com uma atrocidade revoltante.
(...)
A negligência dos tribunais, a lentidão dos processos, a consequente amortização das provas, a facilidade com que se consegue a absolvição dos criminosos, tudo isto concorre para a impunidade dos crimes mais horríveis.
(...)
Os acusados permanecem presos durante muito tempo. Só tardiamente começa a instrução do processo, que prossegue lentamente. Assim, as provas vão perdendo valor e acaba-se por não ser possível obter a confissão dos culpados, nem, portanto puni-los. Assim, os juízes acabam por serem levados a declarar inocentes os que a opinião pública condena, permitindo assim que reingressem na sociedade os celerados, que não tardarão a perturbá-la com novos crimes.
(...)”.


Anónimo (atrib. a J. B. F. Carrère), Tableau de Lisbonne en 1796..., Paris, 1797, in Panorama de Lisboa no ano de 1796 por J. B. F. Carrère (tradução, prefácio e notas de Castelo Branco Chaves), Lisboa, Biblioteca Nacional, 1989, pp. 92-93.
2003-12-07
 
POEMA DE DOMINGO:


Poema no Domingo de Páscoa

No domingo de Páscoa
vi um cego a almoçar num restaurante.

Levava o garfo à boca, e entretanto sorria,
candidamente,
como só os cegos sabem sorrir.
Comia frango, e ao servir-se do garfo ora trazia
comida nova, ora coisa nenhuma,
ora tendões e peles já antes mastigados,
ora tudo junto,
dependurado de qualquer maneira,
sorrindo sempre, candidamente.

Eu então levantei-me e, assim mesmo,
de sapatos castanhos,
calças e casaco da mesma cor,
alto, magro e bastante calvo,
aproximei-me dele
e disse-lhe, imperativamente:
- Abre os olhos!

Que cegueira!


António Gedeão, Poemas Póstumos, 1983, in Poesia Completa, 2a. ed., Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1997, p. 182.


GAZETA DA BLOGOSFERA

O Arqveolvgvs voltou, com novo template e nova residência, já restabelecido do acidente que o vitimou. Procurem-no aqui.

O Blog do Alex mudou-se para um endereço mais simpático e agora está aqui.

O Primeiro Ministro pediu-nos um link. Aqui fica, com todo o gosto (ainda não paga imposto...).

O hemisfério canhoto da blogosfera está a arregimentar reforços de peso. Quando já ninguém o esperava, lá surgiu o Causa Nossa (com Vital Moreira a abrilhantar o elenco dos juristas bloguistas). Manuel Maria Carrilho lançou um site pessoal, que incluirá a partir de 2004-01-01 um “Bloco-Notas” (blog não, que está muito visto...). Perspectiva-se uma corrida ao armamento no segmento dos blogs políticos...


MUITO OBRIGADO

aos autores dos blogs Apanágio de Deuses, Arqveolvgvs, Blog do Alex, Buraco da Fechadura, Grande Superfície e GANG – Grupo de Arquitectos No GANG, pelos amáveis links para o Causidicus.


HORA DE PONTA

A vida dos Causidicus também tem as suas horas de ponta. Não tem sido possível blogar e até ao fim do ano não se vislumbram dias muito melhores...

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